Desassistidos pelo governo e sociedade, indígenas do Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima se organizam e combatem os impactos de mais uma pandemia.
Ariel Bentes | Norte
A pandemia do coronavírus funciona como uma lupa, para a negação da identidade dos povos indígenas e na negligência que o Estado e a sociedade carregam há mais de 500 anos. Historiadores apontam que cerca de oito a 40 milhões de indígenas, falantes de diferentes línguas e com os mais diversos tipos de cultura, viviam no Brasil antes da invasão inicial dos colonizadores. Desde então, os seus territórios têm sido atacados constantemente e os indígenas são obrigados a lutar durante todos os dias, ano a ano, pela sua sobrevivência. Seja contra o garimpo ilegal, o desmatamento das florestas, o descaso dos governos e, atualmente, também contra o vírus da covid-19.
Vanda Witoto, técnica de enfermagem e moradora do Parque das Tribos, bairro indígena de Manaus, capital do estado do Amazonas, afirma que as suas comunidades sempre estiveram abandonadas. “São 520 anos que nós lutamos pela nossa sobrevivência e nessa pandemia nós não fizemos nada de diferente. Já enfrentamos outros tipos de vírus. E vivemos uma pandemia pior, que é a negação cotidiana da nossa identidade. É isso que nos nega, nos inviabiliza e nos tira a vida”.Arte: Lethícia Amâncio / Favela em Pauta
Atualmente, a população indígena no Brasil é de quase 818 mil pessoas, sendo 502 mil vivendo em contexto rural e 315 mil na zona urbana, divididos em 256 etnias e mais de 160 línguas, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em 2010 e o Instituto Socioambiental (ISA). O dado, ainda que desatualizado, nos mostra o quão é representativa a população indígena do país, que poderia ser ainda maior se não enfrentasse frequentemente uma sociedade e um governo que desrespeitam, desvalorizam e promovem a violação do seus direitos.
A população indígena pode ser percebida de forma ainda mais evidente quando olhamos para a região Norte, onde está concentrada a maior parte da população indígena do país. Conhecida no mundo pela Amazônia Brasileira e por sua biodiversidade que vem ano após ano sendo atacada por garimpeiros e madeireiros que lucram com a exploração e o desmatamento ilegal da floresta. Na região de clima úmido, das temperaturas elevadas, das comunidades que moram nas beiras dos grandes rios e o encontro de indígenas, quilombolas e, recentemente, de refugiados do Haiti e da Venezuela compõem a diversidade do local.Arte: Lethícia Amâncio / Favela em Pauta
São Gabriel da Cachoeira, município situado a 850 km de Manaus e que faz fronteira com a Colômbia e Venezuela, é a cidade com maior população indígena absoluta (29 mil) do país, porém o município de Uiramutã em Roraima, ocupado por parte da terra indígena Raposa Serra do Sol, é o local com o maior percentual de pessoas autodeclarada indígenas em sua população (88,1%).
A chegada do Coronavírus no norte
O primeiro caso de contaminação pelo coronavírus entre os indígenas brasileiros foi confirmado no dia 25 de março. Uma jovem do povo Kokama, residente do município amazonense Santo Antônio do Içá, foi infectada através de um médico vindo de São Paulo a serviço da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Atualmente, já passamos de 211 indígenas mortos pelo vírus no Amazonas, sendo o maior quantitativo do país. Atrás dele, Mato Grosso e Roraima ocupam a terceira e quarta posição com 138 e 92 casos, respectivamente.
Manaus foi o epicentro da pandemia da covid-19 no Brasil e, durante o pico da doença entre o mês de abril e maio, o sistema público de saúde do local - que contava com uma estrutura já precária - entrou em colapso devido à alta demanda de pacientes, além da falta de equipamentos e profissionais da saúde. A cidade chegou a realizar cerca de 100 enterros por dia, fazendo com que os mais de 2 milhões de habitantes de Manaus ficassem de luto, junto com as famílias que tiveram que acompanhar os enterros através de uma videochamada.
A contaminação pelo vírus também acometeu Claúdia Baré, moradora e uma das lideranças do Parque das Tribos. O bairro, localizado em Manaus, cidade mais populosa da região Norte, é um dos territórios de luta e fortalecimento da cultura indígena. Lá vivem cerca de 500 famílias, de trinta e cinco etnias e que falam quatorze línguas diferentes, próximas ao caos da metrópole.Bairro Parque das Tribos, localizado na Zona Oeste de Manaus.
Foto: Jullie Pereira
Cláudia conta que teve sintomas de gripe, febre e logo em seguida, perdeu o olfato e o paladar. Orientada por um médico, ela e sua família, que também apresentaram sintomas, procuram se isolar. “Fiquei 5 dias sem poder respirar direito e com uma dor muito forte no peito e essa experiência foi horrível. Fui melhorando com o tempo e fiz três testes e todos deram positivo. Hoje ainda tenho alguns sintomas, mas estou bem melhor”, explica.
Como outros moradores do Parque, Cláudia não tem acesso à nenhuma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou um hospital próximo, e contaram com a ajuda de Vanda Witoto. A técnica de enfermagem iniciou uma campanha nas redes sociais para arrecadar alimentos para a sua comunidade, mas com o vírus avançando e acometendo mais indígenas no local ela decidiu tomar outras medidas. “A minha mãe é costureira e eu comprei TNT para tentar fazer alguma coisa, pois nós não tínhamos dinheiro para comprar máscaras. Eu sou uma das poucas funcionárias de carteira assinada aqui e tive condições de comprar esse material. Minha mãe costurou as máscaras e nós distribuímos duas delas para cada casa e para aqueles que já estavam apresentando sintomas”.
Vanda também contou que ela produziu vídeos que continham orientações de higiene e de como os moradores deveriam usar a máscara para a sua proteção. Emocionada e com a voz trêmula, diz que o isolamento social no Parque é impossível devido ao aspecto das casas que normalmente possuem um único cômodo, fatores que ela aponta como um agravante para o aumento dos casos no local.A técnica, que estava monitorando os indígenas da comunidade, afirma que entre os meses de março e abril cerca de 40 moradores tinham sintomas leves de coronavírus, mas que ao final do segundo mês os sinais mais graves da doença começaram a aparecer e ela se deparou com diversos moradores com dificuldade respiratória. “Quando eu atendi a primeira parente com dificuldade respiratória foi uma loucura. O oxigênio na corrente sanguínea dela era extremamente baixo e o médico que estava me dando suporte online orientou que ela fosse imediatamente para o hospital”. Ao ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Vanda precisou lidar com a resistência e o descaso da instituição em enviar uma ambulância até o local.
“No momento em que eu fiz a identificação da comunidade e que eu e a paciente somos indígenas, a atendente simplesmente me disse que eu deveria buscar a Sesai. Expliquei que por estarmos fora do nosso território, a Sesai não nos reconhece e não nos atende. Eu disse: ‘Eu preciso que você mande a ambulância para atender o meu parente que está prestes a ter uma parada’, só então ela me pediu o endereço e eu informei que como estamos distantes da cidade a única referência é a estrada Vivenda Verde e o Balneário do Maia, mas ainda assim ela me disse que não poderia liberar o veículo com essas informações”, relatou Vanda.
A situação relatada por Vanda é o resultado do descaso e da falta do reconhecimento dos indígenas que residem em área urbana. Além da dificuldade no atendimento de saúde, há uma divergência no número de casos confirmados de coronavírus entre a Sesai e organizações indígenas. Robson Santos Silva, secretário de Saúde Indígena, disse ao site da Câmara dos Deputados, que isso ocorre porque a Sesai trabalha apenas com os números de indígenas que moram em aldeias, mas que aqueles que residem nas cidades podem ser atendidos em qualquer unidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
Revoltada com a situação e contrariando a vontade do pai e do marido, Vanda vestiu seu casaco de pano, usado por ela como jaleco, pegou máscara e luva descartável e foi buscar a indígena para levá-la ao hospital. “O Estado nos negou atendimento e nos negligenciou. Eu enfrentei o medo de me contaminar e levei a parente para o hospital. Ela ficou internada, mas graças a Deus hoje está bem”.Edna Xipaya, Cacica do Povo Xipaya, comenta sobre o fechamento das aldeias.
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Diferente dos moradores do Parque das Tribos, o povo Xipaya vive em contexto rural, mas isso não fez com que Edna Xipaya, Cacica do povo Xipaya, ficasse menos preocupada com a pandemia do novo coronavírus. Altamira, considerada o município mais extenso do Brasil, é a cidade mais próxima do povo, mas que ainda os obriga a fazer uma viagem de 10 dias durante a seca, período de setembro a janeiro.
Apesar disso, Edna determinou o isolamento total das aldeias e bloqueou a entrada e a saída, recebendo apenas os profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei).
Além disso, as festividades culturais foram interrompidas por mais de quatro meses. “Colocamos uma placa na frente das aldeias pedindo pra ninguém entrar. Mesmo sabendo que o nosso risco de contaminação é menor, cortamos todos os momentos culturais, danças e festividades dentro das aldeias e até o momento não tivemos nenhum parente infectado”.
A internet usada na sobre(vivência)
Com mais de 22 anos de existência e luta, o Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (CITA) no Pará, uma organização sem fins lucrativos, foi criado com o propósito de levar políticas públicas para os mais de 8 mil indígenas que compõem o Conselho e vivem nos municípios de Belterra, Santarém e Aveiro, região conhecida como Baixo Tapajós, ponto de encontro entre os rios Tapajós, Arapiuns e Amazonas. Da organização fazem parte 13 etnias, 70 aldeias e 19 territórios não demarcados, mas que possuem seus espaços geográficos reconhecidos por cada povo.
Edney Arapium, um dos coordenadores do Conselho, explica que muitas aldeias da região, principalmente aquelas mais próximas de Alter do Chão, trabalham com o turismo ou agricultura familiar e foram prejudicados financeiramente com a pandemia e o isolamento social. Preocupados com o avanço do vírus e para evitar a contaminação dos aldeados indo até as cidades, o CITA criou um financiamento coletivo online para arrecadar fundos e comprar cestas básicas, além de kits de limpeza e higiene que foram doados para os indígenas que vivem na área.
O coordenador afirma que a ação foi determinante para que o coronavírus não se propagasse ainda mais pelas aldeias. Segundo ele, os aldeados vivem em uma situação de vulnerabilidade na saúde, pois não existe um posto de atendimento próximo e em casos de indígenas com sintomas mais graves da doença, o atendimento seria dificultado pela distância. “A Vakinha foi crucial e já fizemos até o momento três doações. Divulgamos a ação e trabalhamos muito na higienização das cestas e kits e com certeza isso fez com que o índice de contaminação fosse menor”, disse Edney.
Rondônia, estado com população geral estimada em 1,7 milhões de habitantes, tem vinte e nove óbitos de indígenas confirmados e dez povos já foram afetados pelo vírus, entre eles as etnias de Pandareo Zoro e Puruborá, de acordo dados do Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena publicado pelo site Emergência Indígena. Nessa situação a criação de um financiamento online foi a saída encontrada pela Associação de Guerreiras Indígenas de Rondônia (AGIR).
Além das cestas básicas e kits de higiene e limpeza, o dinheiro arrecadado na ação está sendo usado para a compra de materiais e ferramentas que são utilizadas na agricultura familiar, como afirma Maria Leonice Tupari, coordenadora da Associação. “A medida é necessária para que as mulheres e as suas famílias continuem a sua produção agrícola. “Nós Participamos de vários editais e fizemos algumas parcerias para arrecadar mais fundos. Também tem as mulheres que viviam do artesanato e com a pandemia não tinham aonde vender, nós compramos algumas peças e estamos vendendo em uma loja online. Assim, todo mundo se ajuda e isso tem sido essencial para a nossa sobrevivência”.
Ao todo, já são mais de 40 mil indígenas infectados, 884 mortos e 161 povos afetados no país. Sem nenhuma decisão efetiva por parte do governo Bolsonaro e das instituições estaduais, Maria afirma que a luta e a resistência indígena sempre existiu, principalmente por parte das mulheres, e que não é a primeira vez que os seus povos são dizimados. “O governo não tem compromisso com a saúde pública, não só com os indígenas mas com toda a sociedade. Os nossos antepassados já viveram diversas epidemias de vírus e quase foram dizimados, mas agora a Covid chegou e é a nossa vez de lutar contra o invisível”, disse a coordenadora.Fora garimpo, fora covid
Em junho de 2020, um estudo do Instituto Socioambiental (ISA) feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou que cerca de 40% dos Yanomami que vivem próximo das zonas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TY) poderiam ser contaminados pelo coronavírus. Atualmente, já são cerca de nove óbitos confirmados entre os Yanomami, como aponta o site Emergência Indígena.
Com 9,6 milhões de hectares de terras e 27 mil indígenas espalhados em aproximadamente 331 comunidades, o povo Yanomami, presente nos estados do Amazonas e Roraima, é o mais vulnerável da Amazônia brasileira à covid-19. De acordo com o ISA, isso ocorre devido a fragilidade nos sistemas de saúde dos dois estados e o histórico de doenças respiratórias dos Yanomami.
“[...] Os Yanomami têm alta incidência de doenças que podem agravar a infecção pelo coronavírus. Segundo o Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (Siasi), nos últimos dez anos (2010 a 2019) o número de óbitos referentes a infecções respiratórias agudas (J00 a J22) aumentou em 6% na população entre 0 a 14 anos e 300% na população maior que 50 anos”, diz um trecho do estudo realizado pelo Instituto.
Além disso, tanto o estudo do ISA quanto organizações indígenas indicam o garimpo ilegal como principal causa da disseminação do vírus entre os indígenas. Segundo elas, estima-se que vinte mil garimpeiros ilegais residem a menos de cinco quilômetros de Terras Yanomami. Com isso, seis organizações, entre elas o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye'kwana e a Hutukara Associação Yanomami (HAY), lançaram a campanha “Fora garimpo, fora covid”.
Dario Kopenawa, vice-presidente da Hutukara e filho do líder e xamã Davi Kopenawa, um principais responsáveis pela demarcação de terras Yanomami, conta que o objetivo da campanha é pressionar o poder público para que retire os garimpeiros das Terras Yanomami, através das mais de 400 mil assinaturas que foram entregues durante a sessão virtual da Frente Parlamentar em defesa dos Povos Indígenas do Congresso Nacional, realizada no dia 3 de dezembro.
“O garimpo tá muito grande e por causa disso tem muito desmatamento, nossos rios estão contaminados e os problemas de saúde são ainda maiores. Já fizemos reuniões com as autoridades e até com o vice-presidente da república [Hamilton Mourão]. Eu pedi pra que ele retirasse os garimpeiros o mais rápido possível e ele prometeu que o faria, mas até agora nada”, disse Dario.O vice-presidente da Hutukara afirma que o poder público não consegue proibir e coibir os garimpeiros, mas espera que ele faça a sua parte. Enquanto isso, Dario diz que a Hutukara e outras associações indígenas têm defendido os direitos dos seus povos e trabalhado para que o novo coronavírus não atinja mais parentes. “Temos explicado o que é o coronavírus e como podemos nos proteger. Como tudo isso atrapalhou o trabalho com a roça, estamos tentando ajudar com o auxílio emergencial também. Pedimos para eles evitarem ir até Boa Vista ou outro município próximo e para isso montamos uma barreira sanitária, mas fizemos por conta própria pois não conseguimos apoio de nenhum governo”.
Os saberes indígenas
Uma colherada de andiroba para tratar a garganta inflamada, chá de boldo para o fígado e, é claro, o tradicional chá de alho com limão para gripe. Esses são apenas alguns dos muitos saberes ensinados por nossos avós para cuidar de uma gripe ou até de uma doença mais grave e que, apesar de não serem cientificamente comprovados pela dita ciência tradicional, são transmitidos por gerações.
Saberes esses que são ainda mais fortes e presentes nas raízes da cultura indígena. Com a pandemia do coronavírus e a ausência do estado, comunidades recorreram a medicina tradicional indígena para tentar prevenir e tratar a covid-19. Cláudia Baré, contaminada pelo vírus no início do ano, afirma que durante o tratamento, seu companheiro fazia chá de jambu com limão ou alho e mel para ela tomar. Segundo Cláudia, ambas as combinações são indicadas para o tratamento de gripe e fortalecimento da imunidade.
Com a cacica Edna Xipaya não foi diferente. Sem nenhum caso de coronavírus em suas aldeias, a cacica conta que utilizou dos chás para manter a saúde e evitar que alguém fosse contaminado. “Aqui na comunidade Xipaya, tomamos alguns chás para curar gripe e não correr o risco de adoecer os outros. Temos diversas ervas, cascas e sementes que são colhidas na mata e utilizadas em nossos chás e benzimentos”.
Edney Arapium, coordenador do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns no Pará, explica que os chás e benzimentos fazem parte da cultura indígena e que a prática é uma forma de preservar os ensinamentos passados pelos mais velhos. “É uma forma de valorizarmos a nossa cultura e é um ensinamento que nunca irá morrer. Todas as crianças já nascem sabendo e isso é passado de pai para filho”.O "Corona" nas periferias nortistas
Além dos povos indígenas, moradores das periferias de Manaus e Belém, as duas maiores capitais da região Norte, também enfrentam os impactos da covid-19 reforçando a noção de que a população mais vulnerável ao coronavírus, é aquela que sempre esteve nessa condição socialmente. Os grupos Rede de Solidariedade das Mulheres de Manaus e Telas em Movimento de Belém, ações cadastradas no Mapa Corona Nas Periferias lançado pelo Favela em Pauta e Instituto Marielle Franco, são dois dos muitos grupos nortistas que criaram estratégias e ações de combate a pandemia.
Criada no mês de março durante o início do cenário pandêmico, a Rede de Solidariedade faz parte do Fórum Permanente de Mulheres da cidade, organização fundada em 2006 e composta por 18 coletivos atuantes. Poucos dias antes do primeiro decreto de isolamento social, o grupo estava acompanhando casos de feminicídio em Manaus e em um destes, observou que a família da vítima estava em uma situação de precariedade. Em seguida, mais famílias foram identificadas na mesma situação.
Antônia Barroso, uma das integrantes da Rede, relata que a circunstância foi discutida entre as mulheres que decidiram tomar uma atitude. Com isso, um documento que cobra medidas efetivas das instâncias públicas foi elaborado e entregue ao Ministério Público. Além disso, uma articulação para arrecadar fundos e alimentos também foi montada. “A gente estava preocupada com os impactos que isso ia ter nas vidas das famílias, principalmente aquelas chefiadas por mulheres autônomas. Dividimos as tarefas, divulgamos a ação e conseguimos doar alimentos, produtos de limpeza e higiene e máscaras em várias partes da cidade, mas sempre com todos os cuidados possíveis e cobrando o Governo do Estado e a Prefeitura”, disse.
Já em Belém o Telas em Movimento, projeto da Negritar Filmes e Produções que promove a democratização ao cinema e estimula uma nova dinâmica de criação, percepção e distribuição nas periferias e comunidades tradicionais do Estado, tem atuado também em outras frentes. Para além da distribuição de cestas básicas e kits de limpeza, o projeto, que foi contemplado em um edital, observou que as crianças das periferias tinham uma outra necessidade.
O Telas em Movimento trabalha com e para os bairros periféricos, quilombos e algumas das ilhas que compõem Belém. Lugares estes que enfrentam problemas com saneamento básico e energia elétrica e, a partir disso, Matheus Braga, integrante da NaCuia Produtora e Articulador do Telas em Movimento, conta que a equipe do projeto levantou o questionamento “O que as crianças vão fazer durante esses meses de isolamento? Que lazer elas vão ter?”.Entrega do Kit Telas da Esperança em Belém, Pará. (Fotos: Ursula Bahia e Ariela Motizuki)
O projeto distribuiu um kit pedagógico chamado “Telas da Esperança”, no qual as crianças podiam fazer atividades e desenhar, além de criar histórias de super-heróis que lutaram contra a covid dentro das suas comunidades. “Depois recolhemos a maioria desses cadernos e montamos uma exposição na Galeria Theodoro Braga, aqui em Belém. É um local prestigiado da cidade e é a primeira exposição infantil da galeria. Agora estamos trabalhamos com uma oficina para vinte jovens negros que estão aprendendo animação”, disse Matheus.
Em uma segunda etapa os jovens que participam das oficinas estão produzindo uma animação tendo como base os desenhos das crianças. O trabalho em breve será exibido nas periferias da cidade. “Temos atuado em várias frentes e isso representa uma continuidade do trabalho feito com as crianças”, finalizou Matheus.CONTINUE LENDO...
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O MAPA CORONA NAS PERIFERIAS
540 Iniciativas mapeadas em todo Brasil, alcançando mais de 600 favelas e periferias do país.
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